Meu pai nasceu em 1924 e faleceu em 2001.
Hj tenho uma saudade gostosa, já foi doída demais. Ele não preparou sua saída de cena, foi muito rápido. Em dois meses adoeceu e morreu.
Tinha um conhecimento e uma memória invejáveis.
Lia demais: assinava 3 revistas mensais, e 3 jornais diários. Lia tudo de cabo a rabo. Até os classificados.
Machado de Assis e Eça de Queirós foram seus preferidos. Mas leu todos os clássicos e os não tão clássicos, fez parte do "Clube do Livro", nessa época chegavam 2 livros por mês (que eram consumidos em poucos dias) e adquiriu inúmeras coleções: Monteiro Lobato, Tesouro da Juventude, Barsa e outros. Confirmo que leu todos. Leu a Bíblia, acreditava em Deus, mas não era religioso. Apenas no dia da Epifania comparecia à Missa.
Época de prova, era com ele mesmo que eu (como meus filhos mais tarde), tirávamos dúvidas de História, Geografia, Conhecimentos Gerais e até Matemática.
A paciência era enorme, e o sossego também. Não tinha pressa, dirigia MUITO devagar, não foi bom motorista. Era de pouca conversa e de poucos amigos. Não curtia viagens nem festas. Chegou a tentar um baralho, por insistência dos vizinhos, mas foi um fracasso; dormia na mesa, descartava a carta da canastra. Foi dispensado, para sua satisfação. Sempre gostou de dormir cedo e madrugava.
Foi muito caseiro. Quando alguém dizia que adorava uma "beira de rio", ele retrucava: "adoro a beira de casa".
Foi um garoto sofrido, ficou órfão aos 9 anos, era o mais velho de quatro irmãos. "Recordar é sofrer duas vezes", dizia quando alguém perguntava sobre sua infância. Quem contava as mazelas eram meus tios. Chorei muito ao ouvir as histórias. Ele não lamentava nada e fez-se completamente sozinho. Teve uma família dispersa, sem amor e sem união. Viveram separados, e com pouco contato.
Entrou para o Exército com 18 anos. Foi um militar diferente, não sei explicar, mas foi diferente.
Assim que casou-se com minha mãe, foi transferido para o interior, e aqui viveu. Quando faleceu, completariam 51 anos de casados. Foram felizes.
Amou demais essa filha (única), chegou a sufocá-la, confesso, tentando impedir qualquer sofrimento (crescimento).
De repente, um milagre: quando resolvi prestar vestibular fora da nossa cidade, deu o maior apoio. "Passei, pai, meu nome tá na lista!" Sei que sofreu muito com a nossa separação pela distância, mas nunca demonstrou. Sempre firme e me insentivando nos momentos de fraqueza. Foi o presente que faltava: na sua sabedoria, sentiu que o momento havia chegado, a filhinha precisava crescer, aprender "a se virar".
Hj tenho uma saudade gostosa, já foi doída demais. Ele não preparou sua saída de cena, foi muito rápido. Em dois meses adoeceu e morreu.
Tinha um conhecimento e uma memória invejáveis.
Lia demais: assinava 3 revistas mensais, e 3 jornais diários. Lia tudo de cabo a rabo. Até os classificados.
Machado de Assis e Eça de Queirós foram seus preferidos. Mas leu todos os clássicos e os não tão clássicos, fez parte do "Clube do Livro", nessa época chegavam 2 livros por mês (que eram consumidos em poucos dias) e adquiriu inúmeras coleções: Monteiro Lobato, Tesouro da Juventude, Barsa e outros. Confirmo que leu todos. Leu a Bíblia, acreditava em Deus, mas não era religioso. Apenas no dia da Epifania comparecia à Missa.
Época de prova, era com ele mesmo que eu (como meus filhos mais tarde), tirávamos dúvidas de História, Geografia, Conhecimentos Gerais e até Matemática.
A paciência era enorme, e o sossego também. Não tinha pressa, dirigia MUITO devagar, não foi bom motorista. Era de pouca conversa e de poucos amigos. Não curtia viagens nem festas. Chegou a tentar um baralho, por insistência dos vizinhos, mas foi um fracasso; dormia na mesa, descartava a carta da canastra. Foi dispensado, para sua satisfação. Sempre gostou de dormir cedo e madrugava.
Foi muito caseiro. Quando alguém dizia que adorava uma "beira de rio", ele retrucava: "adoro a beira de casa".
Foi um garoto sofrido, ficou órfão aos 9 anos, era o mais velho de quatro irmãos. "Recordar é sofrer duas vezes", dizia quando alguém perguntava sobre sua infância. Quem contava as mazelas eram meus tios. Chorei muito ao ouvir as histórias. Ele não lamentava nada e fez-se completamente sozinho. Teve uma família dispersa, sem amor e sem união. Viveram separados, e com pouco contato.
Entrou para o Exército com 18 anos. Foi um militar diferente, não sei explicar, mas foi diferente.
Assim que casou-se com minha mãe, foi transferido para o interior, e aqui viveu. Quando faleceu, completariam 51 anos de casados. Foram felizes.
Amou demais essa filha (única), chegou a sufocá-la, confesso, tentando impedir qualquer sofrimento (crescimento).
De repente, um milagre: quando resolvi prestar vestibular fora da nossa cidade, deu o maior apoio. "Passei, pai, meu nome tá na lista!" Sei que sofreu muito com a nossa separação pela distância, mas nunca demonstrou. Sempre firme e me insentivando nos momentos de fraqueza. Foi o presente que faltava: na sua sabedoria, sentiu que o momento havia chegado, a filhinha precisava crescer, aprender "a se virar".
Eu não sabia fazer nada. Nada? NADA. Nem nadar.
Aprendi a arrumar cama, casa, a cozinhar e lavar/passar (nesse último fiquei de segunda época, exame e fui reprovada. Até hoje não fui aprovada).
Aprendi a arrumar cama, casa, a cozinhar e lavar/passar (nesse último fiquei de segunda época, exame e fui reprovada. Até hoje não fui aprovada).
Também aprendi a nadar (natação era uma das modalidades exigidas na disciplina de Educação Física!).
Os netos foram sua paixão. Não disse um "não", e fez estrupulias inesquecíveis (ex: subiu no telhado com os dois menores, 2 e 5 anos, e depois para descer foi preciso mobilizar várias pessoas, e quando perguntei, depois de todo o sufoco (e o perigo) que foi a descida :"Pai, por que o sr. fez isso?????" " Eles pediram, e vc sabe que eu não sei dizer não...").
Sim, eu sabia muito bem, e como sabia! Cada pequeno feito meu foi uma grande glória para ele.
Deve haver, em algum lugar distante (pouquíssimos) pais como ele, mas avô igual, desconheço.
Nunca disse "Pai, eu te amo muito!", mas sei que ele viu e sentiu esse amor! Parabéns, paizinho!
Os netos foram sua paixão. Não disse um "não", e fez estrupulias inesquecíveis (ex: subiu no telhado com os dois menores, 2 e 5 anos, e depois para descer foi preciso mobilizar várias pessoas, e quando perguntei, depois de todo o sufoco (e o perigo) que foi a descida :"Pai, por que o sr. fez isso?????" " Eles pediram, e vc sabe que eu não sei dizer não...").
Sim, eu sabia muito bem, e como sabia! Cada pequeno feito meu foi uma grande glória para ele.
Deve haver, em algum lugar distante (pouquíssimos) pais como ele, mas avô igual, desconheço.
Nunca disse "Pai, eu te amo muito!", mas sei que ele viu e sentiu esse amor! Parabéns, paizinho!
Sonica,
ResponderExcluirquando soube que você ia começar um blog eu já imaginava teria textos incríveis, mas a cada novo post fico mais emocionado. Nem sei o que dizer da minha sogrinha querida, a sensibilidade e a emoção com que escreve é tudo reflexo desta pessoa maravilhosa que ganhei junto com a filha. E claro toda a família! Parabéns e continue escrevendo muito. Aqui a gente fica com uma "petit" saudade!!
beijos
Junior
Mamadi, no comments para este seu texto! BRAVO!
ResponderExcluirLINDO! Saudade boa e váaarias lágrimas né!
Beijo, "just", muitcha emoção!
Sonica,
ResponderExcluirQue lembranças lindas!
E que pena que ele partiu tão cedo.
Beijos
Sonia,não esqueço Sr Urbano,com aquele sorriso lindo no rosto e sempre disponivel!!!Ele é parte importante da nossa adolescência, o que seria de nós sem ele???????Beijos a ele.Carmen Silvia.
ResponderExcluirOh, mas que texto mais lindo e emocionante!
ResponderExcluirSabe ... que ja passei por essa fase mais doída que você comentou e agora tambem estou com a saudade gostosa... meu avô é certamente uma das pessoas mais importantes da minha vida, e já partiu ... embora ainda esteja sempre comigo.
Tenho a mais absoluta certeza que seu papai também esta com você, e sendo que eu as vezes sinto o cheiro do cigarro de palha do meu avo quando tenho que tomar uma decisão importante...sei que vc também deve senti-lo ao teu lado.
Beijão!
Ps: Ahh, obrigada pelo elogio la no meu blog! Fiquei tão feliz e envergonhada!!
Vou te seguir aqui para sempre sempre sempre voltar!
Cunhada, querida,
ResponderExcluirQue texto sensível e lindo. Parabéns. Fiquei sinceramente emocionada.
Ah, depois conte mais sobre a viagem, ok?
Beijocas mil,
Meiri
Estou passando para avisar que tem selinhos para você lá no meu blog, porque eu ADORO vir aqui!
ResponderExcluirEee! Beijão mããããe!
SONIA...
ResponderExcluirComo foi bom ler esse texto!!!
Tenho que te falar uma coisa,vc desconhece um avô como seu pai foi,mas tenho que tornar explícito que conheço uma avó muito parecida com ele.Ela é muito mais falante ,mais extrovertida,mais de tudo um pouco!!!!Essa mulher é minha mãe,sua amiga que tanto lhe adora!!!
Ela fala que o amor pelos netos é tipo uma doença,que não dói,só alegra,mas não consegue falar não a eles também,como seu pai!!!Esteve aqui nesse final de semana e deve ter gastado com eles,numa festa junina uns R$200,00,não é demais?Fora que os netos de outras avós aguardam a chegada dela como se fosse avó deles também!!!!Hoje pensava sobre ela quando lí seu texto,acho que ser avô/avó é uma missão,porque minha mãe se torna a cada dia imprescindível na vida de meus pequenos,eles clamam por ela,o mais novo não queria nem entrar na escola,pq não queria que a vó Vera fosse embora!!!É a semente plantada!!!!
Quanto a mim,minha mãe é um vício,ela faz minha vida fluir melhor quando está por perto!!!!Amo-a com todas as forças do meu coração!!!Parabéns pela amizade de vcs!!!!E encha a vida dela de alegrias por mim!!!Um grande abraço!!!!Luciana.
Meu pai é assim, uma pessoa maravilhosa como o seu. Ele esta com oitenta e escrevi um pouco,bem pouco ! sobre ele estes dias quadno fez aniversario. Fiquei muito contente em ler aqui sobre o seu pai, Seu Urbano. Não conhci,mas admiro.
ResponderExcluir